Por Marcelo Faria
Data também é utilizada para lembrar sobre o Morro da Providência, a primeira favela do país
Assessoria de Comunicação M’Boi Mirim
Desde 1900, o dia 4 de novembro é conhecido como o Dia da Favela. A data, muitoamplamente reconhecida no estado do Rio de Janeiro – que, segundo o IBGE (2019), é o 5º estado brasileiro com o maior número de aglomerados subnormais –, é usada para lembrar, celebrar e alertar sobre a luta enfrentada pelos moradores dessas regiões.
Falando da cidade de São Paulo, de acordo com o Mapa da Desigualdade (2020), dos 96 distritos da capital paulista, os dois com maior número de favelas são Jardim Ângela (53,27%) e Jardim São Luís (68,80%). Muitas vezes, o termo “favela” é usado de forma depreciativa. Contudo, são nesses locais de comunidade que muitas famílias encontram refúgio diante da opressão social e onde muitos sonhos começam a surgir.
Mas você sabe por que o dia 4 de novembro foi escolhido como o Dia da Favela? E qual foi a primeira favela do Brasil? Vamos te contar.
Morro da Providência: a primeira favela do Brasil
Localizado no bairro da Gamboa, na Zona Central do Rio de Janeiro, o Morro da Providência é considerado a primeira favela do Brasil. E sua curiosa história tem forte ligação com a Guerra de Canudos (1896-1897), combate armado entre os seguidores de Antônio Conselheiro e o Exército Brasileiro, no município de Canudos, interior da Bahia.
Em outubro de 1897, após a morte de Antônio Conselheiro e seus últimos seguidores, o Exército Brasileiro saiu vitorioso dos combates. Os soldados cariocas, em especial, celebravam a vitória, pois haviam recebido a promessa de ganhar moradias ao retornarem ao Rio de Janeiro. No entanto, essa promessa não foi cumprida.
Sem ter onde morar, os combatentes voltaram ao Rio de Janeiro no final de 1897 e decidiram construir moradias improvisadas em uma área de morro onde já viviam moradores despejados de cortiços. Assim, no início de 1898, nasceu o Morro da Providência, inicialmente chamado de Morro da Favela.
O nome “favela” veio de um morro baiano onde os soldados se alocaram durante os combates em Canudos. Esse local era coberto por uma planta chamada “favela” ou “faveleira”, que causava irritação na pele ao ser tocada. Quando os combatentes retornaram e se estabeleceram no Morro da Providência, decidiram transferir o nome, batizando-o de Morro da Favela. O termo “favela” acabou sendo usado para nomear outros morros semelhantes, popularizando-se ao longo do tempo.
Dia 4 de novembro de 1900: o 1º Dia da Favela
No dia 4 de novembro de 1900, no Rio de Janeiro, o então delegado da 10ª Circunscrição e Chefe da Polícia da época, Dr. Enéas Galvão, redigiu um documento afirmando que o Morro da Providência precisava ser “limpo”, sugerindo que a região era “suja” de pessoas, além de atribuir outros adjetivos negativos. Na época, o morro ainda era chamado de Morro da Providência.
Ao utilizar o termo “favela” em um documento oficial, Enéas Galvão marcou a história do local. A ocasião ficou registrada na memória dos moradores, que decidiram eternizar a data como forma de reconhecimento e resistência ao local onde viviam. O morro, inclusive, foi cenário do premiado filme Orfeu Negro, baseado na obra de Vinícius de Moraes.
O filme aborda a história de Saulo, um jovem estudante negro que enfrenta o racismo e a opressão no ambiente escolar. Com uma narrativa que mistura elementos de ficção e realidade, a produção traz à tona questões urgentes sobre desigualdade racial e resistência.
A trilha sonora do filme inclui um dos maiores clássicos da MPB, “Manhã de Carnaval”, de Agostinho Santos.
Ouça a canção no link a seguir: Manhã de Carnaval.
