Em novo filme da Disney, temos uma família agraciada de dons, porém com uma grande necessidade de aceitação e perfeição. Leia a síntese de Alex Carvalho, publicada pela Shalom Geeks e surpreenda-se com o que podemos aprender como cristãos.
Alex Carvalho – Shalom Geeks
Ser heroína na Disney não é uma das tarefas mais simples. Carregar o peso de um reino, representar a família em uma guerra ou salvar um povo buscando a identidade mais profunda… Elas mergulham de cabeça em grandes aventuras recheadas de descobertas, quebras de paradigmas e expectativas lançadas sobre sua própria jornada. Para Mirabel, protagonista de ‘Encanto’, não será diferente, no entanto, o arco da história se expande para além dela e reverbera em um contexto social e cultural da família e do lugar em que vive.
O filme conta a história dos Madrigal, uma família extraordinária que vive escondida nas montanhas da Colômbia, em um lugar maravilhoso conhecido como Encanto. A magia deste refúgio abençoou a todos da família com um dom único, recebido numa espécie de cerimônia de amadurecimento para os membros. O dom pode ser desde uma super força ou até o poder de curar. Todos, exceto Mirabel. Quando ela, a única Madrigal sem poderes mágicos, descobre que a magia que cerca Encanto está em perigo, decide que pode ser a última esperança desta família excepcional.
O encanto da Família Madrigal
Encanto é um lugar perfeito: os Madrigal se colocam a serviço daqueles que não foram agraciados com dons, e dessa forma dão sentido à graça recebida. Porém, ao se verem privados dos dons, eles desabam e percebem suas vidas completamente sem sentido. Assistindo, percebemos que em alguns momentos os personagens são reduzidos àquilo que simplesmente podem fazer em favor do povo, enquanto Mirabel constantemente tenta encontrar o valor e importância no seio familiar, tentando ajudar a todos.
A narrativa essencialmente fala sobre como a pressão por perfeição pode sufocar, e como a dedicação ao serviço ao outro nos faz esquecer de nós mesmos. Em momentos chave da história, Encanto revela o lado mais obscuro, mostrando a prosperidade e o sucesso individual como exemplo a ser seguido, substituindo o senso de comunidade por senso de competição, o que coloca sobre cada membro da família uma expectativa irreal e desequilibrada dentro da minoria modelo.
Nem tudo é perfeito
“Não falamos do Bruno“, a maior música da Disney atualmente, que até superou “Let it Go” de Frozen, com mais de 30 milhões de streams, materializa o preconceito e o medo irracional que temos daqueles que são considerados desajustados em nosso meio familiar e social. A superação do trauma de não ser aceito por todos começa quando Mirabel decide ajudar seu tio, mostrando que seu dom não representa uma ameaça, mas aponta para uma nova fase dos Madrigal.
O filme traz um novo olhar sobre a família, de maneira sutil e delicada, mostrando que o lar é um lugar vivo, de encontros, de consolo, uma verdadeira fortaleza. Toda família também enfrenta dificuldades, tem vários desentendimentos e às vezes cai na bobagem de viver de aparências. Ao longo do filme, Mirabel vai percebendo que a vida perfeita que os Madrigal aparentam ter, na verdade, é uma vida que encoberta sofrimentos e a pressão de ser sempre útil a todos.
A convergência de todas essas imperfeições, de fato, é o que forma a jornada emocionante que o longa constrói. Será até necessário que essa condição exista para que no final o povo que antes era servido se ponha à serviço, devolvendo o cuidado que sempre lhe fora dado. Afinal, há sempre maior alegria em dar do que receber (At 20,35).
Sobre Mirabel
Não podemos deixar de falar de Mirabel: uma jovem comum, que não consegue enxergar o próprio valor por ser a única Madrigal sem um dom extraordinário. Ela é acusada de acabar com a magia, quando na verdade, está tentando salvá-la. Mirabel faz aquilo que, infelizmente, muitos de nós fazemos desde de pequenos: se compara demais com os outros membros de sua família. Ela não entende que seu grande dom não está em possuir “o dom”, mas ser um dom em uma família cheia de pessoas consideradas extraordinárias.
Ser ou fazer-se capaz?
Encanto é um filme brilhante. O roteiro é um apelo apaixonado pela humanidade real, completa de personagens latinos e elenco cem por cento colombiano, cheio de cores vivas e canções divertidas que, quando escutadas com bastante atenção, nos trarão uma grande provocação: você se reconhece pelo que é ou pelo que é capaz de fazer?
Habilidades e dons todos nós podemos ter, mas SER quem você nasceu pra ser, só você pode construir isso. E essa reflexão é extremamente necessária no mundo em que vivemos, onde a tentação do possuir é tão grande, somos chamados a refletir sobre o SER. Descobrindo a beleza e a verdade de quem somos, podemos transbordar com alegria e leveza nosso chamado a servir àqueles que Deus ama e sermos felizes plenamente.